Etnias
Marek
O togolês que quebrou barreiras
O plano de carreira do estudante togolês de 24 anos, Marek Abi, é trabalhar na área de relações internacionais e diplomacia. Para ele, o primeiro passo para atingir seus objetivos foi aprender línguas diferentes das suas línguas natais. Quando morava no Togo, ele já falava francês, inglês e algumas línguas de seu país, até que então, surgiu a vontade de aprender o português.
Segundo ele, falar de relações internacionais é falar de comunicação entre duas culturas diferentes, dois povos diferentes e de integração. "Para podermos viver juntos, é preciso que haja troca entre as culturas”
Como sempre gostou de viajar e descobrir coisas novas, Marek resolveu vir para o Brasil através do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G). Depois de passar por toda a burocracia, ele viajou para João Pessoa, onde passou seis meses fazendo um curso de língua portuguesa, que é obrigatório para estudantes do programa que vêm que países francófonos e anglófonos. No final do curso ele foi submetido à prova Celpe-Bras, e recebeu uma certificação de Proficiência em Língua Portuguesa.
“Se eu não passasse nessa prova, teria que voltar para o meu país”
Após esses seis meses, ele veio para Fortaleza estudar Letras Português e Inglês na Universidade Federal do Ceará. Ao chegar, ele foi recebido por um amigo congolês, que foi quem o ajudou a alugar um apartamento.
Ao chegar na universidade, Marek sentiu dificuldade em aprofundar relações com os estudantes brasileiros. A maioria das pessoas que ele realmente considera como amigos no Brasil são outros estudantes africanos.
Um exemplo de situação que gerou estranhamento do togolês com seus colegas brasileiros foi que uma vez Marek estava precisando vender rifas para arrecadar fundos pro seu time de futebol americano e pediu ajuda para três colegas da faculdade. O bilhete de rifa custava R$2,00 e elas disseram que não tinham dinheiro. “Alguns minutos depois, eu encontrei essas mesmas pessoas no Shopping Benfica tirando R$20,00 do bolso para comprar um kalzone. Eu teria gostado se tivessem me dito que não estavam interessadas ao invés de fingir que estavam sem dinheiro”, contou ele.
Togo
6 191 155 habitantes
166ª posição no ranking do IDH
Capital: Lomé
Língua Oficial: Francês
As festas brasileiras também causaram estranhamento para ele. Desde quando morava no Togo, Marek não era muito fã de festas e afirma que aqui, ele gosta menos ainda. Segundo ele, o que incomoda é que nas festas de forró só tocam músicas do gênero do início ao fim da festa, o que acha muito cansativo.
O maior e pior choque que Marek teve ao vir morar em Fortaleza foi a violência. “Até agora, eu não consigo adquirir o costume de andar com o meu celular no bolso, no meu país, eu sempre andava com ele na mão”, afirma. No dia 9 de março de 2018, sete pessoas foram assassinadas na Praça da Gentilândia, e ele estava lá quando aconteceu.
Apesar de já ter ido três vezes para Togo durante as férias, ele continua sentindo falta do seu país, principalmente do conforto da sua casa e das comidas da sua mãe. “A vida que eu tenho lá não é o mesmo que eu tenho aqui. Eu sinto falta da minha família e dos meus amigos”, conta o togolês.
Para se manter conectado com sua cultura, Marek costuma reproduzir pratos típicos do seu país no seu dia-a-dia. Segundo ele, no Togo as pessoas têm o costume de comer quase tudo com molho, então ele faz molho de tomate, de cebola, de banana da terra. Ele também costuma escutar muitas músicas africanas, principalmente de rap, que é seu gênero musical favorito. Ele também trouxe várias blusas estampadas feitas com tecidos típicos africanos.
Marek está no último semestre do seu curso e pensa fazer o mestrado em outros países. Além do conhecimento e da experiência que vai levar para resto da vida, o jovem sentirá muita falta do açaí quando for embora.